A construção da grandiosa rodovia federal, BR-BR-230, a famosa Transamazônica, com 4.245 quilômetro de extensão, é uma das maiores rodovias do mundo, atravessando vários estados brasileiros, iniciada no regime Militar, tem muito a nos ensinar e revelar para o resgate de pontos adormecidos da história do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), hoje atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes(DNIT).
Com 50 anos de existência, a BR-230 representa uma parte importante no contexto histórico de Marabá, especialmente no sentido do desenvolvimento, e é nesta cidade onde atua há mais de 46 anos o senhor José Martins da Silveira Neto, um verdadeiro superherói na selva amazônica, que ajudou, como poucos, na construção e manutenção dessa rodovia, passando por todos os cargos possíveis e permanecendo na ativa até hoje. Uma verdadeira lenda viva no desbravamento da Transamazônica a serviço do DNIT. Com várias qualificações como Técnico em Construção e Manutenção de Estradas, Bacharel em Matemática, pós graduação em Geometria Euclidiana, pós graduação em Física, Engenheiro Rodoviário, e mais a experiência adquirida em todos esses anos dedicados ao DNER e depois ao DNIT, Zé Martins como gosta de ser chamado, relembra sua trajetória profissional desde quando deixou de atuar como assistente de professor na antiga Escola Técnica Federal do Pará (ETFPA) em Belém, para prestar concurso para o DNER através do Departamento de Assistência do Servidor Público (DASP), entrando no órgão em 1975 com 23 anos.
Pouco mais de 50% dos colegas aprovados no concurso do DNER aceitaram o desafio de vir para as unidades locais, que antigamente chamavam-se de residências, espalhadas por todo o estado como Capanema, Itaituba, Altamira e Marabá, cujo primeiro trecho foi inaugurado em 1971. Zé Martins, por já possuir o curso de Estradas ofertado pela ETFPA, e já ter trabalhado na área de topografia, construções e pavimentação de estradas, mostrou interesse em vir para Marabá, e a partir daí, dedicou-se de corpo e alma aquilo que ele chama de um grande pedaço de sua vida, a Transamazônica, onde por incrível que pareça perdeu vários colegas de trabalho acometidos por doenças como malária, febre amarela, ou enfrentando animais selvagens como cobras, onças, etc, geralmente em acampamentos improvisados no meio da selva, bem como o risco de acidentes com máquinas pesadas, ou mesmo durante o transporte em trechos perigosos, sem falar na proximidade de tribos indígenas ainda selvagens, sobrevivendo a tudo isso sem se quer ter adoecido ou contraído qualquer dessas doenças comuns na região, considerando-se um sortudo e abençoado por Deus.
Como um verdadeiro predestinado, faz revelações importantes e traz à tona um filme que estava guardado na memória, narrado pelo seu próprio autor quando relembra que além de todo o trabalho e sacrifício no desbravamento da selva amazônica, o nosso herói ainda teve tempo de se dedicar a um grande trabalho social junto aos outros funcionários do órgão. Teve a ideia de criar uma escola improvisada onde atuou como professor, alfabetizando grande parte dos colegas oriundos da
empresa Rodobras, que foram remanejados para o DNER após a conclusão da Belém-Brasília. Com a chegada desses novos funcionários na frente de trabalho, Zé Martins percebeu que muitos não sabiam sequer assinar o próprio nome, e por iniciativa própria dedicou suas noites de descanso com a missão de alfabetizar um grande número de companheiros, conquistando assim a amizade e o respeito de todos os colegas.
Na sua longa caminhada, nesses 46 anos vividos intensamente, o experiente servidor público constituiu família, morou em vários acampamentos ao longo da rodovia, comandou equipes, solucionou problemas imprevisíveis, foi beneficiado com cargos de chefias em escritórios confortáveis, mas no final era sempre chamado pelos engenheiros a retornar ao campo por sua larga experiência e habilidade em solucionar problemas e improvisar soluções, confessando que era exatamente onde gostava de estar.
Hoje, do alto de seus 70 anos e ainda na ativa, o super Zé Martins deixa aqui uma mensagem para as novas gerações de engenheiros e construtores na imprevisível selva amazônica: “em um ambiente inóspito, com uma geografia difícil, onde o inverno amazônico cria dificuldades imensas, eu aconselharia a nova geração de construtores de estradas a não permanecerem apenas nas teorias e estudos adquiridos nas universidades, é preciso enfrentar o desafio de frente, in loco, se aprimorando a cada dificuldade, sendo criativos e eficientes na solução de novos problemas, pois a cada trecho, a cada relevo, e a cada região mudam os desafios e se multiplicam as dificuldades”. Ao final declara orgulhoso e com a certeza de que a sua atuação vem sendo essencial para um capítulo importante na consolidação da rodovia Transamazônica.